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Travessia do Paraná: de Cantagalo a Campo Largo 3º e 4º dias

Ao amanhecer iniciei aquele que prometia ser o dia mais longo de pedal, incluindo a distância percorrida. Ainda no cômodo da escola abandonada, certifico que nada ficou para trás, como algumas bolachas, coloco a bagagem sobre o bagageiro e estou pronto para sair.


Pedalando por aí


Agora vamos conhecer as histórias do terceiro e quarto dias da Travessia do Paraná. Viagem realizada pelo cicloturista Nelson Neto nos idos do ano de 2007, quando estava se preparando para um pedal ainda mais longo, este em direção ao Oceano Pacífico.


Aproveitem a leitura e não deixem de navegar pelos outros ambientes dessa Maloca!


 


De Cantagalo a Campo Largo


O dia e a noite anterior não havia sido dos melhores, então eu desejava que esse terceiro dia fosse mais tranquilo. Novamente acordei cedo e antes das sete horas da manhã já estava pedalando, quase 100 quilometros e duas cidades de atraso, embora eu estivesse em direção da maior altitude da viagem, após algumas subidas depois de Cantagalo, a Serra da Esperança na região de Guarapuava me proporcionou algumas descidas alucinantes que revitalizaram meu humor e minha energia. O visual é maravilhoso, mas não tirei muitas fotos, aproveitei as descidas, o dia bom e ainda sem vento, por isso resolvi me manter em movimento, em um ritmo mais rápido.


Guarapuava - Paraná


Nessa região central do estado do Paraná pode-se notar a existência em maior número das Araucárias, é uma beleza à parte. Impossível não registrar sua presença marcante. Muito alto, estamos, a bicicleta e eu, a mais de mil metros de altitude, o horizonte se apresenta infinitamente majestoso. As subidas ainda são parte constante do trajeto, mas agora estou acostumado com elas.


Serra da Esperança - Paraná


Você acaba preparando o psicológico para encarar as subidas monstruosas, como aquela subida íngreme antes do pedágio a 20 quilometros de Guarapuava, que parece não ter fim. Se a parte física do seu corpo não ajudar, mas você estiver bem psicologicamente, você pode ir além do que se imagina, tenha certeza disso.


A exatamente vinte quilômetros antes de chegar em Guarapuava, ouço um barulho de vazamento, sim, era o primeiro pneu furado da viagem. Mas era um furo muito pequeno, embora estivesse ouvindo o vazamento, demorou para o pneu murchar por completo. Então resolvi seguir viagem, era próximo ao meio dia e esperava encontrar um restaurante na entrada de Guarapuava, assim aproveitaria para almoçar e trocar a câmera.


O almoço foi uma maravilha, bom e barato. Um dos melhores momentos do dia, descanso e barriga cheia. Existia uma borracharia ao lado do restaurante. Para não perder tempo, levei a bike para o rapaz trocar a câmara. Nunca tinha realizado essa tarefa anteriormente, por não saber ou com ansiedade de seguir viagem o quanto antes, a preferência foi trocar na borracharia. Em razão de alguns minutos estava tudo pronto. De novo na estrada. Desta vez o tempo começa a fechar e a chuva não demorou a cair.




O trecho da rodovia que passa por Guarapuava é longo, desse modo antes de sair completamente do perímetro urbano, a chuva começou aos poucos e aumentou aos poucos. Fiz uma breve parada em um ponto de ônibus para certificar que a câmera fotográfica não iria molhar. Pra isso não existe muito segredo, para não deixar sua bagagem encharcada, basta deixar tudo em sacolas, essas mesmo de supermercado, solução simples.


Como foi a primeira vez que choveu durante a viagem, resolvi tirar uma foto para mostrar futuramente que um cicloturista está sujeito a diversas variações climáticas. Não esperei a chuva parar e continuei pedalando, em um giro muito bom, a velocidade aumentava, estava descendo um pouco.


Com a chuva eu não tenho nenhum problema e vou embora. Por alguma razão sempre pedalo mais rápido com a chuva, mas ela foi passageira e alguns quilômetros depois o tempo começou a clarear novamente. Em uma descida, aproveito para filmar, estava muito feliz pelas circunstâncias, barriga cheia, descida, chuva, alma lavada.




Ainda não estava no ponto mais alto, segundo meu roteiro, seria o distrito de Guará, cerca de vinte e cinco quilômetros depois de Guarapuava. Portanto, mais subidas no caminho, mas essas não eram um obstáculo como no inicio, agora elas proporcionavam um pedal mais tranqüilo.


Os Pinheiros do Paraná continuavam visíveis à beira da estrada e também no horizonte. A semente dessas árvores, conhecidas como pinhão, cujo seu interior é comestível depois de assado ou cozido, é comumente vendido nos supermercados ou na beira da rodovia, fato presenciado, sobretudo, na região de Guarapuava e Guará, nesta última, de modo mais acentuado. Não tenho muito apreço pelo pinhão, raramente degusto o seu sabor. Dessa maneira não parei para comprar. Mas me chamou atenção para o grande número de pessoas que realizavam a sua venda.


Para tornar o pedal ainda mais agradável, uma bela surpresa estaria no meu caminho. Com o asfalto ainda molhado da chuva é inevitável ficar limpo, os respingos dos pneus na roupa e no corpo eram visíveis, mas pra falar a verdade, quem se importa com esses aspectos diante da situação que eu me encontrava.


Lembro-me que em um estado de êxtase extremo, fiquei ainda mais feliz quando surge do inesperado, à beira da estrada, uma cachoeira literalmente ao lado da rodovia. Quase no topo da subida, estava ela, acessível aqueles que quisessem aprecia-la. Até então eu desconhecia a existência daquela maravilha da natureza, por isso fiquei surpreso a ponto de quase não acreditar no que estava vendo.


O cenário e a ocasião foram um prêmio pelos três dias pedalando praticante em aclive. Acredito que a maioria de nós, cicloturistas, não pedala com a intenção de sermos premiados com essa ou aquela paisagem, pois a vitória está em realizar aquilo que muitos desejam, mas apenas os dispostos a abandonar o estilo de vida habitual e se aventurar pelos seus ideais são capazes de realizar, e isso está em todo o conjunto da viagem.


Determinadas obras que a natureza se incumbiu de fazer tornam o momento inesquecível e a sensação única. Desse modo, a cachoeira no território do município de Guará ficou marcada pela beleza e resistência da natureza à ação dos homens. Ainda observa-se atrás da queda d’água o Pinheiro do Paraná, resultando em um ambiente ímpar, perfeito para recuperar as energias e seguir em frente.



Após registrar a cachoeira em vídeo e foto, sigo a BR 277, pelo meu roteiro atual, incluindo as devidas mudanças em razão do atraso, meu objetivo é pedalar enquanto for possível. E a tarde estava quase acabando quando uma placa na estrada indicava o início da descida da serra, com uma extensão de sete quilômetros, não preciso nem comentar que uma mensagem dessas é sempre bem vinda.


Mas parece que pra ser aventura não pode ser fácil, a descida tem acostamento, mas este é marcado por aquelas lombadas menores, em uma distância pequena entre elas, assim, aquele que trafega pelo acostamento não tem a mínima chance de ganhar velocidade. Que injustiça.


O fluxo de veículos não era pequeno, existiam muitos caminhões que por questão de segurança descem em baixa velocidade, geralmente freando constantemente, a conseqüência é que o transito fica mais lento, formando uma fila de veículos.


Por alguns metros eu resisto à idéia de andar na pista e a bike vai saltando quase desastrosamente os obstáculos. Sem automóveis ou caminhões saio do acostamento e vou para pista, uma decisão arriscada, mas a vontade de aproveitar a descida foi maior. Mas essa atitude não prossegue por muito tempo, logo a frente peguei um congestionamento, justamente pela velocidade menor dos caminhões, fico atrás de um carro e não demora muito pra uma caminhonete aparecer atrás de mim.


Não querendo virar um sanduíche, embora estivesse todo equipado, inclusive com farol e lanterna, não penso duas vezes em voltar para o acostamento repleto de obstáculos miseráveis que provocam a ira de muitos que passam por esse trecho de bicicleta.


Recordo que o Valdo, um cicloturista com seus mais de sessenta anos e que atualmente (janeiro de 2010) se encontra em sua volta ao mundo de bike, também reclamou sobre a existência de tais lombadas. Enfim, durante a descida, mesmo escurecendo, avistava-se ao lado esquerdo, o Morro do Chapéu, nome em referência à forma da montanha, uma bela paisagem.


Presenciei esse mesmo morro em uma viagem de automóvel realizada um ano anterior. Fiz então, uma breve parada para registrá-lo, mas como estava muito escuro, só eu consigo enxergá-lo na fotografia. Ainda bem que eu sei que ele está presente na imagem, se por acaso me taxarem de mentiroso. No final da descida, o município de Prudentópolis e na entrada da cidade um movimentado posto de combustível (Relógio) à esquerda com a marcante presença de inúmeros caminhões, ao lado direito uma lanchonete e borracharia, nesta eu resolvi parar e perguntar ao funcionário que estava trabalhando sobre a possibilidade de passar a noite em algum lugar no posto existente no outro lado da rodovia. O senhor que me atendeu, era na verdade, o dono da borracharia e da lanchonete que ficava paralela a casa dele.


Prudentópolis - Paraná


Ele não me chamou pra dormir na casa dele. Mas me recomendou uma escola abandonada que estava ao lado de um terreno baldio que por sinal se encontrava ao lado da borracharia. Infelizmente não consigo lembrar o nome do senhor, mas jamais vou esquecer a atenção concedida. Emprestou-me sua lanterna para que meu acesso até a escola fosse possível. Questionei sobre a presença de outras pessoas no local, ele disse que apenas alguns mendigos ficavam no lugar, mas era principalmente no inverno, ainda não estávamos na estação, mas fazia certo frio.


Aproximando-me da escola, percebo que ninguém se encontrava no cômodo onde resolvi ficar, se por acaso aparecesse alguém durante a madrugada, eu somente teria que dividir o ambiente, sem causar tumulto. Expressando assim, até parece que eu não estava apreensivo, a borracharia em Guaraniaçu também parecia tranqüila.

O dono da borracharia me avisou que no banheiro da lanchonete tinha chuveiro, então assim que arrumei as coisas no cômodo da escola, inclusive deixando a barraca montada, mesmo que o lugar estivesse todo coberto. Aproveito para levar algumas roupas para lavar em uma torneira ao lado da borracharia. No banheiro, outra surpresa, banho quente, um milagre. Geralmente os banheiros de postos de combustíveis não tem essa opção. Quando surge uma oportunidade dessa, nos resta aproveitar e ficar alguns minutos a mais para tomar um banho mais caprichado, principalmente depois de um dia com chuva e muita sujeira pra todo lado.

Voltando ao ‘quarto de hotel’, deixo tudo dentro da barraca, exceto a bicicleta, esta fica cadeada dentro do cômodo. A porta existente era carente de tranca. A solução foi simples, fechar a porta e usar os elásticos que amarravam a bagagem para evitar que a porta viesse a ser aberta durante a noite, se por ventura isso acontecesse, eu escutaria o barulho.


Se essas armadilhas funcionam não sei, ainda bem que nunca tirei uma prova real de sua eficácia. A noite não é tranqüila, apesar de não aparecer ninguém, parece que sempre estamos dormindo prestando atenção no que acontece ao redor, e talvez o nome disso nem seja dormir, até porque, parecia que a cada caminhão que estacionava no posto do outro lado eu escutava-o movimentando-se.


De qualquer forma, eu estava limpo, um pouco descansado e minhas coisas estavam todas em ordem. Antes de dormir eu já havia agradecido ao senhor que me indicou a escola, me cedeu a torneira para lavar as roupas e ainda deixou eu tomar banho. Para economizar, minha janta havia sido algumas bolachas que estavam na mochila. O café da manhã seguinte foi servido com o mesmo cardápio.




Ao amanhecer iniciei aquele que prometia ser o dia mais longo de pedal, incluindo a distância percorrida. Ainda no cômodo da escola abandonada, certifico que nada ficou para trás, como algumas bolachas, coloco a bagagem sobre o bagageiro e estou pronto para sair.


Ainda não era seis horas da manhã, mas o movimento no posto já era grande. Estava frio e minha roupa lavada poucas horas atrás ainda estava úmida, sem alternativa, utilizo assim mesmo e por cima uma blusa de frio, estilo tak-tel, em vista que a outra de moletom estava perdida na estrada. Mas conforme você se movimenta e aquece o corpo, o tempo frio não passa a ser um obstáculo, exceto quando é acompanhado de ventos fortes, mas este não era o caso.


Os primeiros minutos de pedal foram tranqüilos, pouco trânsito, mas muita neblina, exigindo ainda mais atenção, por isso faço questão de deixar bem visível atrás da bagagem, a lanterna, que mesmo pequena chama atenção. Por mais de uma hora pedalo sob forte neblina, com o tempo ficando claro, e os primeiros raios solares penetrando a nevoa, torna o cenário bucólico, embora tímido em razão do tempo, ainda mais especial.




O objetivo do dia era chegar em Curitiba, a uma distância de 215 quilometros, aparentemente impossível para quem havia pedalado o máximo de 160 quilometros e ainda no primeiro dia. Mas novamente não considero uma missão impossível. O ritmo é maior em comparação aos dias anteriores, a neblina cede espaço para um sol forte e um tempo limpo, sem muito vento, o que ajuda a manter o giro mais constante.


A próxima cidade depois de Prudentópolis era Irati, e mesmo pedalando bem, consigo chegar na hora do almoço, antes da entrada da cidade, faço uma parada em um restaurante à beira da estrada. Novamente a comida é farta e o preço bom. Aproveito para ligar pro João Paulo em Curitiba e mantê-lo informado sobre onde estava, afinal era para avisá-lo assim que estivesse na capital, o que deveria acontecer no dia 30, segunda-feira para descermos a serra no dia seguinte que seria feriado.


Irati - Paraná


Mesmo faltando aproximadamente 140 quilometros para chegar em Curitiba, aviso que consigo chegar até o final do dia, mais tarde eu saberia que o João não havia acreditado nas minhas palavras.


Depois do almoço, não mais que uma hora e novamente na rodovia, faço apenas algumas fotografias, embora o trecho na região de Irati seja muito bonito. A estrada é boa e as condições do relevo favorecem um ritmo cada vez mais forte no pedal. Meu objetivo de chegar na capital é ainda mais um incentivo para não desanimar diante das subidas que começam a surgir próximo a cidade de Palmeira.


Nesta região as subidas e descidas são realmente constantes, em alguns momentos você está em uma descida de quilômetros, com curvas e uma visão fantástica dos arredores da estrada. Em outros instantes, a única imagem a sua frente é de uma subida interminável.




Com esta oscilação consigo finalmente chegar na cidade de Palmeira, mas já estava escuro, deveria ser em torno das sete horas da noite. Antes vale ressaltar uma parada na estrada durante a tarde em uma lanchonete onde aproveitei para comer dois salgados, tomar um refrigerante e aproveitar o local higiênico para fazer as necessidades básicas.


Palmeira - Paraná


Saindo do estabelecimento um senhor começa a conversar comigo e explico sobre a viagem, fato repetido diversas vezes durante a expedição. Contudo, ele me faz uma pergunta que no mínimo eu achei curiosa, questionou se minha viagem era em razão de alguma promessa realizada. Respondo que não e ele parece desapontado, rebatendo qual era o motivo da viagem. Tento explicar em poucas palavras sobre o cicloturismo e que a viagem estava fazendo parte do treinamento para o Chile, afinal a Travessia do Paraná era o começo dos treinos para realizar a grande expedição para o Oceano Pacifico. Se ele me entendeu, não sei. Mas continuei rumo a Palmeira.


Em Palmeira ainda faltava São Luiz do Purunã e Campo Largo antes de chegar na capital. Apesar de estar escuro, não penso em parar por enquanto. Estava cansado, mas me sentia bem fisicamente para continuar pedalando. Como a estrada tinha acostamento, também concluí que estava seguro. Avançando alguns quilômetros e aumentando a altitude novamente, percebo que em alguns trechos o acostamento cede lugar para a terceira faixa, exclusiva para caminhões, isso ocorre geralmente em subidas.


Perdendo o acostamento, somos obrigados a pedalar na mesma faixa destinada aos caminhoneiros, claro, pedalando sempre sobre a faixa da direita. Não tive nenhum problema com os caminhões, a maioria respeita sua presença na estrada, passando inclusive a mais de um metro e meio da bicicleta, distância exigida por lei.


Creio que o fato da bicicleta estar devidamente iluminada contribua bastante para esse comportamento, vale a ressalva que alguns poucos ainda resistam a te respeitar, passando muito próximos da bike. Mas cicloturista também tem que ter sangue frio e não se apavorar diante das circunstâncias. Neste instante não estava nem preocupado com a questão de assaltos, principalmente pela hora e por estar em uma região totalmente desconhecida. Tinha, é obvio, a noção de que havia riscos, mas isto, nós todos estamos sujeitos, mesmo ao ir até a esquina de casa. Continuei.


Altas horas da noite, sozinho, cansado e com fome, chego até um posto de combustível em São Luiz do Purunã. Pensei em ficar e passar a noite por ali mesmo. Mas eu estava tão próximo, e a informação que recebi do funcionário do posto foi que até Campo Largo (26 quilometros) existia um longo trecho de descida. Isso me animou bastante.


São Luiz do Purnã - Paraná


Não resistindo a façanha de chegar no dia previsto, coloquei a magrela na estrada e continuei. E realmente, havia uma longa descida de serra. Alucinante, uma experiência nova, descer em alta velocidade, mesmo de noite em uma serra com muitas curvas. Você esquece tudo e aproveita o momento.


Lembro que fiz apenas uma pausa para registrar placa com a quilometragem das próximas cidades, isso só foi possível, graças ao flash da câmera. Pois nada mais era visível. Apenas minha força de vontade para pedalar mais dez quilômetros, chegar em Campo Largo e avisar o João para me esperar na entrada de Curitiba, conforme o combinado.




Na chegada em Campo Largo, as condições do tempo são estranhas, frio, uma mistura de neblina com chuvisco, algo que não soube identificar. Mas, finalmente estava cada vez mais próximo do destino. Na entrada da cidade eu não consigo encontrar nenhuma placa indicando que era Campo Largo, mas parecia uma cidade grande pela quantidade de luzes que embaraçosamente se visualizava em meio do mau tempo.


Para tirar a dúvida, entro um pouco na cidade e encontro logo um posto de combustível que já estava fechado, mas com alguns seguranças presentes. Eles me informam que estou em Campo Largo e que Curitiba está há uns 20 quilometros. Para quem andou até aquele momento 200 quilometros, mais vinte não seria nenhum sacrifício, meu corpo ainda aguentava, minha mente estava preparada. Mas algo que não esperava aconteceu.



Campo Largo - Paraná


No posto de combustível resolvo ligar para o João e avisar que estou em Campo Largo e se mesmo numa hora daquela, só onze e meia da noite, ele poderia me esperar na entrada de Curitiba. O telefone demora a ser atendido, apenas na segunda tentativa ele atende, a ligação não é boa, mas percebe-se que está sonolento, não é pra menos. Ele me diz que está na praia, mencionou o nome, mas como não compreendi, pedi para repetir e somente então fui perceber que meu guia não poderia me ajudar. João explicou que, como liguei de Irati passava das doze horas da tarde e a distância até Curitiba era grande, não imaginou que eu conseguiria chegar a tempo. Assim, resolveu descer a serra com a galera para a praia. Que azar.


Ficamos de nos encontrar na terça-feira, dia seguinte, na Serra do Mar, mas estaríamos em sentidos opostos. Sem saber o que fazer direito, já que os planos mudaram novamente, não encontrei razão em chegar em Curitiba àquela hora e não saber onde ficar e sem nenhum apoio. Decido por montar acampamento no posto onde me encontrava.


Antes peço autorização para os seguranças, havia uns quatro, cinco, não compreendi o motivo, mas de qualquer forma eu também estaria seguro. E na verdade foi a noite mais tranqüila. Apenas acordava no meio da noite em razão da comunicação entre eles via rádio. Mas isso era o de menos. Antes de dormir, também liguei para minha mãe, avisando onde estava e que tudo ocorrera bem, claro que neste momento a omissão de detalhes é imprescindível.


Na manhã seguinte, acordei entre 7 e 7:30, mas demoro mais algum tempo para levantar, quando decido desmontar acampamento já passam das oito horas, ou seja, o horário mais tardio até então para arrumar as coisas. Mas isso acontecia, justamente pelo fato de não saber qual alternativa colocar em prática.


O João estava na praia com a galera do pedal e eu conhecia apenas uma amiga que morava na capital, talvez eu pudesse passar na casa dela, fazer uma visita e conseqüentemente conseguir algumas informações sobre qual trecho era o mais apropriado para seguir viagem. Entrei em contato com essa amiga dias antes da viagem, para avisar sobre a possibilidade de nos reencontrarmos, visto que há muitos anos não a via.


Com o telefone dela em mãos, assim que desmonto a barraca deixei tudo preparado para partir, vou até o telefone público do posto. As notícias não são boas, ela também aproveitou o feriado para descer ao litoral. Parecia que todos tiveram a mesma idéia de ir à praia. E agora o que fazer?




Não perca na próxima semana a última parte da história da "Travessia do Paraná"


 

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ESCRITO POR:

Nelson Neto

Cicloturista e Historiador


Escritas de Si

Escrever sobre si nunca é tarefa fácil. Este espaço do Desinsubstancializando tem como foco oportunizar um lugar para que seus leitores e participantes relatem suas experiências e trajetórias de vida.



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